11.16.2012

"Dizia nunca esquecerei, e lembro-me"

"Onde estás, pai, que me deixaste só a gritar onde estás? Na angústia, preciso de te ouvir, preciso que me estendas a mão. E nunca mais nunca mais. Pai. Dorme, pequenino, que foste tanto. E espeta-se-me no peito nunca mais te poder ouvir ver tocar. Pai, onde estiveres, dorme agora. Menino. Eras um pouco muito de mim. Descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei".
 
José Luís Peixoto. "Morreste-me". Pareço voltar sempre a estas palavras. A estas, às outras, deste e dos outros livros do autor. Agora, também um bocadinho fotógrafo. Ele assim se diz. E a capa do livro que acaba de lançar, "Dentro do Segredo - Uma Viagem na Coreia do Norte", o comprova.
Não escrevo, desta vez, apenas para viver e pedir-lhes que vivam através das palavras de José Luís Peixoto. Daquelas que sempre nos oferece por via do que (nos) escreve.
Não. Dir-se-ia que, desta feita, "o caso é mais sério". As palavras vieram, mas não só impressas no papel. Chegaram em ondas sonoras, em vibrações que se tornaram audíveis e ecoam, ainda, em torrente, na cabeça, na memória.
Há momentos na vida de cada um de nós que jamais esqueceremos.
E aquele em que conheci o José Luís será, não tenho quaisquer dúvidas, um desses momentos.
O dia de ontem. O dia do lançamento de "Dentro do Segredo". 15 de Novembro de 2012.
Sei que, por muito que procure expressar as emoções que ali se desprenderam das palavras, apenas quem teve o privilégio de ontem ter estado no número 33 da Travessa da Queimada pode, verdadeiramente, entendê-las. Aquele entendimento que advém do que sentimos quando a voz e o olhar - penetrante, mas sem nunca intimidar - de alguém que admiramos profundamente nos atravessa a superfície e se entranha, devagar mas consistentemente, em nós.
José Luís Peixoto é um homem simples, caloroso e acessível, generoso nas palavras e nos gestos.  Dotado de um olhar profundo como nunca vira e de um sorriso cristalino, tão franco e aberto. Um homem que ama as palavras e encontra felicidade em que outros vivam através das suas, revendo-se nelas. Um homem que, como eu, valoriza o "mesmo" e a verdade. Características que não mascaram - apenas sublinham - a genialidade que, nem mesmo quem nunca haja estado na sua presença, poderá desmentir.
Impunha-se, evidentemente, adquirir o novo livro do José Luís, pedir-lhe que, com generosidade, o assinasse. E assim se cumpriu. Tenho uma imensa curiosidade relativamente a este novo registo do escritor, o registo da saída da sua "zona de conforto", conforme explicou. E a expectativa de aprender muito, também, através da sua sensibilidade muito própria, acerca de uma realidade que me é distante.
"Dentro do Segredo", este livro pelo qual, como me disse, o José Luís se apaixonou, embora de uma forma muito distinta, e por razões também elas diferentes, do que sucedeu com "Morreste-me".
A referência expressa a esta obra, que me fez na conversa que mantivemos, partiu de uma manifesta fraqueza minha. Na verdade, não resisti, nem tentei, sequer, resistir, a levar comigo o meu exemplar, aquele que tantas vezes anda comigo, que li e reli, pousado no meu colo, nas horas de almoço. Não pude evitar dizer-lhe que li "Morreste-me", pela primeira vez, pela mão de uma amiga, que me apaixonei perdidamente por ele,  que o ofereci antes mesmo de o comprar para mim. Que o mesmo me diz tanto tanto sobre o amor e a vida.
A dedicatória do José Luís, que agora e para sempre, acompanha o hino que é este (meu) livro, apenas revela, de forma inequívoca, a grandiosidade do homem, do poeta e escritor que Galveias viu nascer. Ao (re)lê-la, não consigo abandonar a ideia de que a magnificência da alma e do saber não estará nunca naqueles que, ainda que apenas debitando citações, se vão dizendo obras da erudição (alguns, pasme-se, desde o berço!), mas em pessoas com a superioridade humana e intelectual deste homem.
Não tendo faltado a fotografia carinhosamente tirada pela C. -  tratava-se de um momento histórico no contexto da minha vida, pelo que lá pedi desculpa ao José Luís por esta minha "criancice"! -, resta-me dizer-lhe um "muito obrigada" e um "até sempre"! Mesmo.
 
 

 

2 comentários:

  1. Ana!!! Que bom!!!! Estão lindos...duas almas incríveis!

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    1. Oh, obrigada, Raquel, no que me toca, é manifesta generosidade tua (não no que respeita aoJosé Luís)! Um momento incrível. Muito feliz.

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