1.17.2013

Portugal de... José Luís Peixoto

Um poema lindíssimo.
Declamado pelo seu autor no documentário, ontem transmitido pela RTP1, "Portugal de... José Luís Peixoto" (pode ser visto aqui: http://www.rtp.pt/play/p60/e105261/portugal-de). Um programa de conteúdo extraordinário. Emocionei-me. Emocionei-me muito.
Em momentos como estes, não há como não ter orgulho de se ser português/portuguesa.
 
 
CERTIDÃO DE NASCIMENTO

Portugal, encho a boca com esta palavra, mastigo-a.
Preencho impressos com os números de uma data
em que tinha 3 quilos e 700 gramas.

Portugal é o nome de pessoas que telefonam umas
às outras, que se ultrapassam na auto-estrada e
que se despedem com a mesma sílaba.

O dia em que nasci é a minha mãe com as pálpebras
desmaiadas sobre os olhos, a pensar em labirintos e
a tricotá-los no centro dos seus sonhos.

Portugal e o dia em que nasci misturam-se sem
perderem cor, são matérias complementares
na lamela de um microscópio.

Portugal e o dia em que nasci são irmãos gémeos,
vestidos de igual, que os parentes mais próximos
se entretêm a tentar distinguir.

O dia em que nasci é Portugal, um país completo,
mas Portugal é muito mais do que apenas um dia,
Portugal é o instante exacto em que nasci.

- José Luís Peixoto, in "Gaveta de Papéis" -
 
(Galveias, Ponte de Sor)


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