11.24.2012

Sublime

Sempre que o vejo, e porque ainda o não tenho, vou ler o texto da contracapa d' "A Criança em Ruínas". Adoro.



11.16.2012

"Dizia nunca esquecerei, e lembro-me"

"Onde estás, pai, que me deixaste só a gritar onde estás? Na angústia, preciso de te ouvir, preciso que me estendas a mão. E nunca mais nunca mais. Pai. Dorme, pequenino, que foste tanto. E espeta-se-me no peito nunca mais te poder ouvir ver tocar. Pai, onde estiveres, dorme agora. Menino. Eras um pouco muito de mim. Descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei".
 
José Luís Peixoto. "Morreste-me". Pareço voltar sempre a estas palavras. A estas, às outras, deste e dos outros livros do autor. Agora, também um bocadinho fotógrafo. Ele assim se diz. E a capa do livro que acaba de lançar, "Dentro do Segredo - Uma Viagem na Coreia do Norte", o comprova.
Não escrevo, desta vez, apenas para viver e pedir-lhes que vivam através das palavras de José Luís Peixoto. Daquelas que sempre nos oferece por via do que (nos) escreve.
Não. Dir-se-ia que, desta feita, "o caso é mais sério". As palavras vieram, mas não só impressas no papel. Chegaram em ondas sonoras, em vibrações que se tornaram audíveis e ecoam, ainda, em torrente, na cabeça, na memória.
Há momentos na vida de cada um de nós que jamais esqueceremos.
E aquele em que conheci o José Luís será, não tenho quaisquer dúvidas, um desses momentos.
O dia de ontem. O dia do lançamento de "Dentro do Segredo". 15 de Novembro de 2012.
Sei que, por muito que procure expressar as emoções que ali se desprenderam das palavras, apenas quem teve o privilégio de ontem ter estado no número 33 da Travessa da Queimada pode, verdadeiramente, entendê-las. Aquele entendimento que advém do que sentimos quando a voz e o olhar - penetrante, mas sem nunca intimidar - de alguém que admiramos profundamente nos atravessa a superfície e se entranha, devagar mas consistentemente, em nós.
José Luís Peixoto é um homem simples, caloroso e acessível, generoso nas palavras e nos gestos.  Dotado de um olhar profundo como nunca vira e de um sorriso cristalino, tão franco e aberto. Um homem que ama as palavras e encontra felicidade em que outros vivam através das suas, revendo-se nelas. Um homem que, como eu, valoriza o "mesmo" e a verdade. Características que não mascaram - apenas sublinham - a genialidade que, nem mesmo quem nunca haja estado na sua presença, poderá desmentir.
Impunha-se, evidentemente, adquirir o novo livro do José Luís, pedir-lhe que, com generosidade, o assinasse. E assim se cumpriu. Tenho uma imensa curiosidade relativamente a este novo registo do escritor, o registo da saída da sua "zona de conforto", conforme explicou. E a expectativa de aprender muito, também, através da sua sensibilidade muito própria, acerca de uma realidade que me é distante.
"Dentro do Segredo", este livro pelo qual, como me disse, o José Luís se apaixonou, embora de uma forma muito distinta, e por razões também elas diferentes, do que sucedeu com "Morreste-me".
A referência expressa a esta obra, que me fez na conversa que mantivemos, partiu de uma manifesta fraqueza minha. Na verdade, não resisti, nem tentei, sequer, resistir, a levar comigo o meu exemplar, aquele que tantas vezes anda comigo, que li e reli, pousado no meu colo, nas horas de almoço. Não pude evitar dizer-lhe que li "Morreste-me", pela primeira vez, pela mão de uma amiga, que me apaixonei perdidamente por ele,  que o ofereci antes mesmo de o comprar para mim. Que o mesmo me diz tanto tanto sobre o amor e a vida.
A dedicatória do José Luís, que agora e para sempre, acompanha o hino que é este (meu) livro, apenas revela, de forma inequívoca, a grandiosidade do homem, do poeta e escritor que Galveias viu nascer. Ao (re)lê-la, não consigo abandonar a ideia de que a magnificência da alma e do saber não estará nunca naqueles que, ainda que apenas debitando citações, se vão dizendo obras da erudição (alguns, pasme-se, desde o berço!), mas em pessoas com a superioridade humana e intelectual deste homem.
Não tendo faltado a fotografia carinhosamente tirada pela C. -  tratava-se de um momento histórico no contexto da minha vida, pelo que lá pedi desculpa ao José Luís por esta minha "criancice"! -, resta-me dizer-lhe um "muito obrigada" e um "até sempre"! Mesmo.
 
 

 

11.06.2012

Da aproximação do Natal, dos falsos moralismos e da minha falta de paciência

Dou comigo irritada.
Com a situação do país. Com as imposições de quem tudo pode. Com as falências e as portas a fecharem-se. Com as fileiras de desempregados e a fome que já se lê nos olhos de muitos. Com os manifestantes que transformam os protestos em espectáculos de circo. Com o saldo da conta bancária cada vez mais pequenino e as despesas em constante crescendo. Com o medo de não conseguir cumprir as minhas obrigações.
Mais do que irritação, o que sinto é uma enorme apreensão. Também em crescendo. Todos os dias.
A irritação, essa, é mesmo com as pessoas. Em momentos tão difíceis, deveríamos ser especialmente solidários uns com os outros. Mas não. Nem na miséria o somos. Nada a fazer.
Isto vem a propósito da aproximação da quadra natalícia e dos comentários que começam já a proliferar nas redes sociais, que mais não são, afinal, do que a reprodução, porventura acrítica, de um certo tipo de discurso que, por esta altura, todos os anos, impera. E nem está, necessariamente, relacionado com a crise. É apenas mais do mesmo.
É verdade. Lá teremos de suportar ouvir o célebre "Natal é paz e amor, não o consumismo desenfreado", é "tempo da família e de união". E por aí fora. É a converseta mais do que gasta.
Não que o Natal não seja, para mim e para a minha família, pontuado por todas aquelas coisas. Esforçamo-nos para que assim seja. A pergunta que sempre me ocupa a mente, porém, é: não deveriam todos os dias ser de afectos, de solidariedade entre os Homens, de união das famílias?
Como é aborrecido e insensato o discurso do "os portugueses só pensam em consumir", "gastam o que não podem, tal como quando vão de férias" (este aditamento é delicioso!), sendo que, quem o utiliza, se coloca, evidente e invariavelmente, fora desse grupo maldito formado... pelos "portugueses", ora bem..! Quem utiliza esse discurso são pessoas auto intituladas de "cidadãos com princípios e valores", "bons educadores", "bons gestores domésticos"... por contraponto aos tais dos "desgovernados", os "portugueses" que só pensam em fazer do Natal uma quadra dedicada ao consumo. Pessoas sem princípios nem valores, portanto.
Para além da manifesta falta de inteligência que as generalizações sempre revelam, pergunto-me, em primeiro lugar, o que terão estas pessoas que ver com o dinheiro que os outros gastam, no Natal, nas férias, ou noutra ocasião qualquer? A menos que estes o façam a expensas dos "cidadãos com moral", referidos, parece-me que... nada!
Por outro lado, questiono-me se o número de presentes recebidos "per capita", ou o número de decorações natalícias adquiridas será inversamente proporcional ao acervo de princípios e valores de quem os recebe/adquire. Estou certa de que não!
Particularmente, não posso dar-me ao luxo de consumir muito. Nem neste Natal, nem nos que virão, adivinho. Também não pude ir de férias.
Se seria extraordinariamente mais feliz se pudesse comprar mais sapatos, malas, livros, discos, ou brinquedos e vestuário para os filhos? Talvez não fosse. Seria pior pessoa se pudesse fazê-lo? Não me parece.
Se acho que cada um faz ao seu dinheiro o que bem entende? Acho.
Se acho que quem pode fazê-lo, deve gastar o que ganha com o esforço do seu trabalho, também, em coisas que lhe dão prazer? Acho.
Se acho que as pessoas que ainda podem mimar-se, e aos seus, com alguns bens materiais, são pessoas sem valores e sem princípios, maus educadores e/ou maus gestores domésticos? De todo!
A vida não devia ser apenas cumprimento de deveres e de obrigações contraídas. E é-o cada vez mais, porque estamos depauperados, e, à generalidade de nós, já pouco ou nada sobra para uma ou outra distração.
Uma coisa tenho como segura: os falsos moralistas que utilizam o referido discurso não são, não podem ser, as "pessoas com valores e princípios" que se dizem. Pessoas com valores e princípios não estão sempre prontas para julgar, gratuitamente, o próximo.

(foto via Moi Decor)