Não tinha em mente a publicação do presente texto, todavia, no Domingo que passou tive o privilégio de estar presente, juntamente com a minha família, no baptismo do filho de um casal muito nosso amigo. Ambos os membros do casal são, igualmente, padrinhos de baptismo do meu filho e, portanto, o dia só podia assumir, como assumiu, um enorme significado para nós.
Por corresponder ao XXVIII Domingo do Tempo Comum, uma das leituras efectuadas foi a do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Marcos 10, 17-30), que reza assim:
"Naquele tempo,
ia Jesus pôr-Se a caminho,
quando um homem se aproximou correndo,
ajoelhou diante d'Ele e Lhe perguntou:
« - Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?»
Jesus respondeu:
« - Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus.
Tu sabes os mandamentos:
'Não mates; não cometas adultério;
não roubes; não levantes falso testemunho;
não cometas fraude; honra pai e mãe'.
O homem disse a Jesus:
« - Mestre, tudo isso eu tenho cumprido desde a juventude».
Jesus olhou para ele com simpatia e respondeu:
« - Falta-te uma coisa: vai vender o que tens,
dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no Céu.
Depois, vem e segue-me».
Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante
e retirou-se pesaroso,
porque era muito rico (...)."
Confesso que, ao ouvir as palavras do Senhor Padre, num primeiro momento e, seguramente, em função do meu fraco cultivo da leitura das Sagradas Escrituras, fui invadida pelo pensamento de que, face à actual conjuntura económico-financeira e às repercussões que a mesma, generosamente auxiliada pelas sucessivas medidas adoptadas pelo executivo, tem na situação das famílias portuguesas, este "discurso" se revelava, até, um bocadinho aviltante. Não que seja, por princípio, contra o auxílio dos materialmente mais desfavorecidos, pelo contrário. Ninguém pode, porém, ignorar que a, até aqui, "classe média" portuguesa tem sofrido e (pelos vistos!) continuará a sofrer graves e duríssimos golpes, e está, efectivamente, empobrecida. Desesperantemente empobrecida. Senti-me, portanto, incomodada.
E com este ingrato sentimento teria abandonado a Igreja onde decorria a celebração, não fora a esclarecida e muito tempestiva explicação do Senhor Padre, que se dirigiu aos fiéis asseverando-lhes que, nesta passagem do Evangelho, se não quis veicular que seguir Jesus é uma opção de miséria, mas, sim, sublinhar a importância de cada um se despojar da sua segurança pessoal (fornecida, em grande medida, pela "riqueza") e de aprender outra forma de ver a vida, os bens materiais, Deus, o outro e a própria religião.
Já faziam, pois, mais algum sentido aquelas palavras. Mas o Senhor Padre continuou o seu sermão e, de forma brilhante, fez a sua transposição para a prática, mais uma vez alertando os fiéis de que, para alcançar a "vida eterna" (que o Prior transpôs para o conceito de "Felicidade"), não basta cumprir, ainda que escrupulosamente, os Mandamentos. Porque essa é a bondade meramente formal - e quantos Homens não conhecemos que os cumprem, mecanicamente, sem que nada de realmente verdadeiro perspasse os seus corações? Sem que sejam o que, no conceito de qualquer homem comum, mediano, possa corresponder a uma boa pessoa?
A bondade que conduz à felicidade é aquela que radica na partilha. No respeito por si mas, também, pelo outro. No não se colocar a si e aos seus interesses, sistematicamente, em primeiro lugar. No importar-se, realmente, com o outro, com os seus sentimentos e as suas necessidades.
E, transpondo o texto das Escrituras para a linguagem do amor ao próximo e do respeito, nós entendemo-nos.
Adorei :) penso da mesma forma e vejo a vida como o Senhor Padre explicou. Ajudo e, enquanto puder, vou continuar a ajudar os que me rodeiam e até mesmos os desconhecidos.
ResponderEliminarObrigada pela partilha :)
Bjinho
Ana
Fui educada assim Ana! E não me espanta nada o que o Senhor Padre disse! :)
ResponderEliminarA mim também não me espanta..! Sou é obrigada a reconhecer que nem todos pensam assim! Obrigada a ambas pelos vossos comentários!
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