"Mal nos conhecemos / Inaugurámos a palavra «amigo»!".
Assim se inicia um dos mais citados poemas de Alexandre O'Neill. Tantas vezes citado, pergunto-me, porém, se, com o passar do tempo, isso o não terá esvaziado de conteúdo. Se o poema será entendido - melhor dizendo, sentido - no seu significado intrínseco, a cada vez que alguém o transcreve para um qualquer suporte.
Não que eu seja céptica relativamente à amizade - não escreverei "à verdadeira amizade", justamente porque o contrário envolve uma contradição nos próprios termos.
Na realidade, no que toca à amizade, sou uma crente, uma "beata fervorosa", acredito no poder da mesma e na influência que pode ter na vida de quem por ela se deixa tocar. Mas, sobre essa influência, discorrerei noutro espaço.
Cícero escreveu que, "dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é o amor da amizade". Assentindo, acrescentarei que, sem o amor da amizade, o amor romântico é pobre e votado à insubsistência.
Ao longo da minha jornada existencial, muitas vezes me tenho questionado sobre o significado da amizade e sobre o papel que tenho na vida daqueles a quem chamo de "amigos", e vice-versa.
Há alguns dias, o M. dizia-me "uma pessoa incapaz de fundar qualquer relação inócua". A mais pura das verdades. Relações que nada acrescentam são, para mim, meras interacções, normalmente impostas por circunstâncias pessoais ou profissionais. Não constituem, pois, qualquer alimento para a alma.
Nunca fiz amizades com facilidade. Talvez por ser uma pessoa tímida e reservada. Mantive sempre um núcleo contido de amigos, o qual, no correr da vida e com naturalidade, nalguma parte, se alterou. Tenho amizades que têm quase a minha idade, outras que nasceram recentemente e que ainda dão, embora de forma assertiva, os seus "primeiros passos". Todas muito boas.
Penso poder dizer que me entrego, de coração inteiro, aos meus amigos. Sou uma adepta do incondicional, portanto.
Sucede que, quando nos entregamos, com esta intensidade, àqueles de quem gostamos, é seguro que, mais cedo ou mais tarde, sofreremos graves desilusões. Julgo, até, que aqueles que não se entregam - que nunca se entregam para além do que pode considerar-se a fronteira da sua zona de conforto -, fazem-no conscientemente, como forma de auto-preservação.
Porque dói. Dói intensamente sentir que demos de nós mesmos, que teríamos dado mais se as circunstâncias o tivessem exigido ou proporcionado, e que isso não foi devidamente valorizado, que, pura e simplesmente, foi deitado fora, como se de algo de trivial se tratasse.
Creio que faz parte dos processos internos do ser humano, perante a desilusão, a incompreensão e o sentimento de injustiça que aquela provoca, passar por uma fase de rebelião, na qual nos insurgimos contra nós mesmos, contra a nossa forma de ser e de estar na vida e na relação com o outro.
Humana que sou, já vivi, e de forma vincada, fases de rebelião, nas quais expressei intensa raiva por me entregar demasiado, por pensar nos outros em detrimento de mim mesma, por estar sempre "lá" e por, quando precisei, o inverso não haver - pasme-se! - sucedido.
Percebi, nesses momentos, que não é o facto de não me dar aos outros na perspectiva de deles receber, que evita o sofrimento de realizar que, afinal, a importância que tínhamos, uns para os outros, não merecia equiparação.
E compreendi, também, que, como, recorrentemente, afirma um grande e sábio amigo meu, existem "erros de casting" que não conseguimos evitar, ainda que tenhamos a "mania" de que lemos as pessoas com particular fidedignidade. E que, por vezes, o que temos de melhor para oferecer não corresponde ao que o outro reclama para a sua vida e para a sua felicidade. Ou, pelo menos, àquilo que a sua generosidade e/ou inteligência emocional suporta.
Em profunda fase de rebelião, recebi, há dias, uma mensagem, na qual, entre o mais, podia ler-se, "- Tu és uma pessoa muito especial!". Em abono da verdade, terei de dizer que, momentaneamente, tive a sensação de ter levado um enorme murro no estômago. Não foi a primeira vez que a frase, com essa mesma literalidade, me fora dirigida e isso gerou-me um enorme desconforto, essencialmente por me fazer recordar que, algumas vezes, a mensagem não terá passado de um conjunto ordenado de palavras desprovidas de significação especial para o seu autor.
Depois... Bem, depois esbocei um sorriso, e fi-lo com gratidão, por saber que, pelo menos desta vez, estas palavras vieram do coração de quem as proferiu (muito especial, devo dizer!). E, fazendo o balanço, compreendi que a entrega àqueles que amo continua a ser o caminho. O meu, pelo menos.
Nunca fiz amizades com facilidade. Talvez por ser uma pessoa tímida e reservada. Mantive sempre um núcleo contido de amigos, o qual, no correr da vida e com naturalidade, nalguma parte, se alterou. Tenho amizades que têm quase a minha idade, outras que nasceram recentemente e que ainda dão, embora de forma assertiva, os seus "primeiros passos". Todas muito boas.
Penso poder dizer que me entrego, de coração inteiro, aos meus amigos. Sou uma adepta do incondicional, portanto.
Sucede que, quando nos entregamos, com esta intensidade, àqueles de quem gostamos, é seguro que, mais cedo ou mais tarde, sofreremos graves desilusões. Julgo, até, que aqueles que não se entregam - que nunca se entregam para além do que pode considerar-se a fronteira da sua zona de conforto -, fazem-no conscientemente, como forma de auto-preservação.
Porque dói. Dói intensamente sentir que demos de nós mesmos, que teríamos dado mais se as circunstâncias o tivessem exigido ou proporcionado, e que isso não foi devidamente valorizado, que, pura e simplesmente, foi deitado fora, como se de algo de trivial se tratasse.
Creio que faz parte dos processos internos do ser humano, perante a desilusão, a incompreensão e o sentimento de injustiça que aquela provoca, passar por uma fase de rebelião, na qual nos insurgimos contra nós mesmos, contra a nossa forma de ser e de estar na vida e na relação com o outro.
Humana que sou, já vivi, e de forma vincada, fases de rebelião, nas quais expressei intensa raiva por me entregar demasiado, por pensar nos outros em detrimento de mim mesma, por estar sempre "lá" e por, quando precisei, o inverso não haver - pasme-se! - sucedido.
Percebi, nesses momentos, que não é o facto de não me dar aos outros na perspectiva de deles receber, que evita o sofrimento de realizar que, afinal, a importância que tínhamos, uns para os outros, não merecia equiparação.
E compreendi, também, que, como, recorrentemente, afirma um grande e sábio amigo meu, existem "erros de casting" que não conseguimos evitar, ainda que tenhamos a "mania" de que lemos as pessoas com particular fidedignidade. E que, por vezes, o que temos de melhor para oferecer não corresponde ao que o outro reclama para a sua vida e para a sua felicidade. Ou, pelo menos, àquilo que a sua generosidade e/ou inteligência emocional suporta.
Em profunda fase de rebelião, recebi, há dias, uma mensagem, na qual, entre o mais, podia ler-se, "- Tu és uma pessoa muito especial!". Em abono da verdade, terei de dizer que, momentaneamente, tive a sensação de ter levado um enorme murro no estômago. Não foi a primeira vez que a frase, com essa mesma literalidade, me fora dirigida e isso gerou-me um enorme desconforto, essencialmente por me fazer recordar que, algumas vezes, a mensagem não terá passado de um conjunto ordenado de palavras desprovidas de significação especial para o seu autor.
Depois... Bem, depois esbocei um sorriso, e fi-lo com gratidão, por saber que, pelo menos desta vez, estas palavras vieram do coração de quem as proferiu (muito especial, devo dizer!). E, fazendo o balanço, compreendi que a entrega àqueles que amo continua a ser o caminho. O meu, pelo menos.
Minha cara, pois eu, sou uma céptica em relação aos amigos adquiridos recentemente. Os meus amigos (não digo verdadeiros pela contradição que muito bem referes)são os que me acompanham há já muitos anos. Os outros não passam de meras relações vividas mais ou menos intensamente, mas que de sólidas nada têm!
ResponderEliminarExistirão sempre relações com potencial para se transformarem em amizade que, pelas mais diversas razões, não atingem esse seu potencial. Outras, em cujo potencial acreditámos, mas que nunca o tiveram. Será dos dois tipos de situação que advirão as decepções. E acredita que as tenho tido.
EliminarParticularmente, e parafraseando uma amiga das mais recentes, posso dizer que nunca pensei fundar amizades com a minha idade, mas parece ser um facto que isso ocorreu.
Desejo ardentemente não decepcionar, nem ser decepcionada pelas pessoas em causa. É um risco, mas é daqueles que dá sabor e sentido à vida!
Abraço apertado!
A vida está sempre a surpreender-nos (é um lugar comum, mas é verdadeiro). Claro que os amigos mais antigos têm a seu favor o teste do tempo, das dificuldades e das alegrias vividas em conjunto. Para mim, é maravilhoso olhar para pessoas que fazem parte da minha vida há 15 ou 20 anos. Mas também me agrada conhecer novas pessoas e descobrir que para além dos encontros fugazes (que podem ser verdadeiros e intensos, também), há aqueles que ficam para a vida e são um património.
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